Escolher um nome é uma decisão crucial, muitas vezes marcada por homenagens significativas. Este foi o caso da monumental Ana Júlia, a sucuri gigante, cuja jornada a levou às margens do Rio Formoso em Bonito (MS), onde foi descoberta sem vida.
👩🔬🐍Ana Julia, uma homenagem
O renomado documentarista Cristian Dimitrius esteve entre os primeiros a capturar imagens da cobra nas límpidas águas do Rio Formoso, em Bonito. Por quase uma década, ele retornou à cidade quase anualmente, registrando a vida selvagem, incluindo sua visita à serpente.
Dimitrius explica que o nome Ana Júlia é uma conexão direta com a tradução da palavra “sucuri” para o inglês, que é Anaconda. Além disso, é uma homenagem à famosa música “Anna Júlia”, da aclamada banda brasileira Los Hermanos.
“Inicialmente não tínhamos nomes, não sabíamos reconhecer cada individuo. Com passar do tempo passamos a entender melhor cada local, cada seguimento do rio e cada indivíduo que habitava ali. Quando pensei em ‘ana alguma coisa’, a primeira que veio na cabeça foi ‘Ana Julia’ , por causa da música dos Los Hermanos”, frisou.
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O cineasta relata que durante uma de suas expedições em 2014, deu nome à imponente serpente. Anos depois, a pesquisadora da Universidade de São Paulo, especialista em sucuris, Juliana Terra, também passou a monitorar o animal de perto.
👵👵’Vovózona’
O apelido dado à cobra foi adotado tanto pela especialista da USP quanto pelos guias turísticos de Bonito. Porém, ao longo do tempo, alguns instrutores dos passeios pelo Rio Formoso começaram a se referir a Ana Júlia como “Vovózona”.
O nome reflete o tamanho e a idade da cobra. Com quase 7 metros de comprimento e mais de 10 anos, o apelido se popularizou entre os guias.
Vilmar Teixeira, que conduz passeios na região, já tinha registrado avistamentos da cobra. “Eu dei esse apelido à sucuri para poder identificar qual cobra eu estava avistando. Com apenas um olhar nas características, eu conseguia diferenciar cada uma”, explicou o guia turístico.
Vilmar Teixeira faz passeios pela região e já havia registrado a cobra. “Eu coloquei o apelido na sucuri para poder identificar qual cobra eu registrava. Eu só em olhar as características sabia definir qual cobra era”, comentou o guia de turismo.
📸📹A cobra mais famosa do mundo
Ana Julia já apareceu em vários vídeos, fotos e conteúdos que se espalharam pelo mundo. A mais recente aparição da cobra em um registro foi no começo deste ano. A sucuri morta é a mesma que viralizou em um vídeo compartilhado pelo biólogo holandês Freek Vonk.
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Ana Julia foi protagonista de documentários da BBC, reportagens internacionais e de pesquisas que envolvem cientistas de vários países.
🐍🐍Cobra simpática
Juliana Terra e Cristian Dimitrius explicam que as sucuris não são cobras agressivas, como são vinalizadas em filmes de Hollywood.
“Existe muito sensacionalismo e informações errôneas difundidas sobre a espécie, isso mostra que ainda temos muito trabalho de educação ambiental, pesquisa e conservação pela frente para desmistificar a espécie e evitar que casos como esse continuem acontecendo, a morte direta por humanos ainda é um dos principais fatores de morte das sucuris”, explicou a especialista Juliana Terra.
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Ana Júlia era uma integrante típica da natureza. Dimitrius relembra seus encontros com a sucuri, sempre agindo com cautela e respeito ao espaço do animal selvagem. “Ela é a sucuri mais famosa do mundo. Ana Júlia era incrivelmente tranquila, nunca demonstrou agressividade”, compartilhou o cineasta.
“Ela se movia lentamente, aproveitava o sol em horários específicos. A cobra era uma presença constante e tolerava nossa proximidade. Isso a tornava única, sendo uma verdadeira embaixadora de sua espécie, além de contribuir com valiosas informações para pesquisadores em todo o mundo”, detalhou Cristian.
🏊🖼️Bonito, um destino de ecoturismo
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Em um cenário de águas cristalinas, cobras como Ana Júlia só são encontradas em Bonito, considerada a capital nacional do ecoturismo.
Com rios de águas límpidas e uma conservação exemplar da fauna, Bonito oferece o ambiente ideal para esses avistamentos. “Bonito é o único lugar do mundo onde encontros como esse são possíveis. Esses animais são extremamente importantes para a cidade como um todo”, destaca Dimitrius.